quinta-feira, 7 de junho de 2007

Atentado Contra a Vida de um Ambientalista

Meus caros companheiros,
Ocorreu um fato na sexta feira, 30 de março de 2007 na Cidade de Americana que acredito mereça registro.
Sou o que pode ser chamado de Ativista Ambiental, o Ambientalista mais ferrenho. Atuo como coordenador de projetos do “GRUDE – Grupo de Defesa Ecológica da Bacia do Rio Piracicaba” e entre várias atividades correlatas, trabalho como “Voluntário da Polícia Ambiental do Estado de São Paulo”.
Especificamente, recebemos informações de crimes ambientais e damos andamento ao processo desta denúncia. Temos diversos casos em andamento. Um destes diz respeito à construção de um prédio, hoje no quarto pavimento, dentro de um córrego. Esta denúncia teve início a mais de um ano como pode comprovar pelas imagens do “Google” (22°43’53.56” S – 47°18’48.88” W). Na época a obra estava só nas fundações. Este processo esta sendo acompanhado pela Secretaria de Meio Ambiente de Americana, que em sua competência esta fazendo um excelente trabalho. O problema esta na competência do Estado (DPRN, Policia Militar Ambiental e outros), na indiferença da Promotoria do Meio Ambiente e nos vícios de procedimento da Secretaria de Obras do município, que comete os mesmos erros há mais de vinte anos (o secretário é o mesmo a diversas legislaturas). Para dar andamento ao processo, junto à Secretaria do Meio Ambiente, passei pelo local ontem, para tirar umas fotografias. Quando cheguei ao local, com uma moto emprestada de uma amiga, encontrei um caminhão descarregando tubolões de concreto que provavelmente seriam usados para a canalização do córrego. Aqui fazemos uma ressalva para questionar a autorização desta canalização particular, este cidadão esta fazendo obra pública? Com autorização de quem? Para que meu trabalho fosse agilizado, nem tirei o capacete, que estava afivelado. Em momento algum invadi o local em construção, com minha câmara fotográfica digital entrei em uma área lateral, que deveria ser uma “APP – Área de Proteção Permanente” tomada de capim colonião. Registrei os enormes tubos, a lateral da construção e pontos referenciais.
Continuando meu trabalho fui até a margem do córrego que passa a menos dois metros dos pilares da obra, para coletar mais fotos (provas). Neste momento aparece um homem no primeiro pavimento da obra, que começa a gritar absurdos. Como voluntário da PM Ambiental passamos por treinamento de procedimento e sabemos que não podemos entrar em argumentação com terceiros sobre o caso que estivermos registrando.
Percebendo a exaltação desproporcional do cidadão em questão, resolvi sair do local. Quando saio do mato e piso no asfalto, que não deveria estar ali, pois se encontra dentro da APP (obra da Secretaria de Obras), o indivíduo me atacou com socos e pontapés, querendo me tomar a maquina fotográfica. Neste instante chegaram mais duas pessoas e começaram a me agredir. Um deles pegou um pedaço de pau e deferiu um golpe contra minha cabeça, que por sorte estava com o capacete. Gritando que ia me matar outro me pegou pelo capacete, pelas costa e o torceu para traz. Por asfixia, quase cheguei ao óbito. O tranco foi tão grande que me fez girar no ar e cair de costas. No chão ele continuou a torcer meu pescoço em quanto um deles me tirou a câmera.
Continuaram me chutando, até que consegui me desvencilhar e sair correndo. Quase em choque, agindo como um alucinado, totalmente sem raciocínio, atravessei a avenida de entrada da cidade de Americana, que tem um movimento intenso, sem prestar atenção ao transito, quase fui atropelado, varias vezes. Cheguei semi-inconsciente a Rodoviária local e prontamente fui atendido por funcionários públicos, que imediatamente acionaram a “GAMA” (Guarda Municipal) e uma ambulância do Hospital Municipal. Gostaria de registrar o excelente trabalho dos profissionais destes dois órgãos públicos, pela presteza no atendimento. Chegando ao hospital fui prontamente atendido e passei por 12 horas de observação. Existia a suspeita de lesão cervical e por este motivo tive que passar por duas baterias de “Raio X”. Felizmente a suspeita foi afastada e eu recebia alta. Agora estou em casa me recuperando deste atentado, com o rosto inchado, olho roxo e uma marca de enforcamento. Fora a crítica que possa receber por fazer este tipo de trabalho sozinho, fica um sentimento de vazio profundo. Lutamos há anos para tentar parar o processo de devastação ambiental, que neste momento ocorre deslavadamente em toda a “RMC – Região metropolitana de Campinas”. A culpa desta insensatez é do ministério público que da as costas a sociedade civil, desguardando o espaço público de direito difuso que é vampirisado pelo interesse imobiliário. Infelizmente a atenção a destes casos de descarado crime ambiental só aparecem quando corre o sangue de algum Dom Quixote. Fora isso a luta continua.

Felicidades,

Geraldinho
GRUDE